MESTRES TAOÍSTAS: A ÁGUA E O BAMBU.
Miguel Filliage(*)
A base filosófica da Medicina Oriental, especialmente a Chinesa e a Tibetana, é taoísta, baseada na observação sistemática e profunda da natureza. Na natureza, com na vida de qualquer pessoa, nada é permanente — tudo está em contínua mutação. A impermanência é uma das grandes leis do Planeta. A natureza e o Homem evoluem em ciclos, num movimento espiralado—sempre acontece o verão, o outono, o inverno e a primavera, mas as flores nunca são as mesmas.
Alguns dos principais conceitos e ensinamentos taoístas saíram de dois grandes mestres da natureza, a água e o bambu.
LIÇÕES VINDAS DA ÁGUA
- A água ensina a não resistir, a deixar fluir, a aceitar o que se apresenta. A vida surgiu da água, o maior solvente do planeta, o útero da vida. A água flui, avança pelo caminho mais fácil, contorna obstáculos, procura a menor resistência. A água não briga com os obstáculos, não resiste. Assim é.
- A água ensina que só é grande aquele que serve. A água é grande mestre porque vem servindo ao planeta Terra há bilhões de anos. Existe uma única água no mundo. Há pelo menos quatro bilhões de anos a água da Terra é a mesma. Ela é um fluxo contínuo. A mesma água deu vida a todos os seres vivos do Planeta—através dela, é possível perceber a unicidade de tudo.
- A água ensina que para avançar na vida é preciso, muitas vezes, recuar. Quando a água cai num fosso, acumula-se, até encontrar a borda mais baixa. Quando o Homem está numa situação difícil, no fundo do poço, precisa voltar-se para si, se reabastecer, interiorizar-se, recuar, fazer muita reflexão e meditação, para voltar a avançar, para encontrar novas saídas.
- A água ensina que somos naturalmente um fluxo contínuo de energia, de fluídos e de água. O que mantém a vida da água é o seu fluxo. O que mantém nossa vida é o fluxo. O bater do coração é um fluxo; o sangue é um fluxo; um meridiano de energia estagnado interrompe o fluxo da vida, a vida pára—e as doenças acontecem. E o fluxo é interrompido, muitas vezes, pelas nossas emoções mal canalizadas, pelas nossas resistências. Precisamos aprender a fluir como a água, sem resistência, só aceitando. Somos compostos de 75% de água e toda ela se renova em dois dias no corpo; e a cada seis meses, nos renovamos integralmente, com novas células.
- A água ensina que só é grande aquele que é humilde e receptivo, assim como o oceano, que acolhe e é receptivo a todos os rios. O oceano é grande porque ocupa a posição mais baixa.
LIÇÕES VINDAS DO BAMBU
- O bambu ensina que é necessária a paciência e a determinação para os projetos florescerem e terem força. O bambu enraíza-se bem fundo e firme antes de crescer para fora da terra. Quando plantado, através de semente, o bambu fica cinco anos embaixo da terra, antes de brotar.
- O bambu ensina que quem se contenta com o suficiente tem o suficiente; quem agradece aquilo que já tem, está pronto para prosperar. O bambu cresce reto, satisfeito e agradecido com seu espaço. Ele ocupa um espaço pequeno e suficiente. Uma lição de gratidão, retidão e suficiência aos homens.
- O bambu ensina a simplicidade. O bambu é uma planta muito simples.
- O bambu ensina sobre a necessidade dos limites para as coisas durarem. O bambu tem divisões que garantem sua resistência. Seus gomos são seus limites. Dia e noite são limites; estações do ano têm limites. Tudo precisa de limites. Até as limitações precisam de limites — para não virarem inflexibilidades.
- O bambu ensina sobre a flexibilidade, o caminho do meio; para não sermos rígidos. A mente rígida quebra, tem doenças, especialmente de coluna. O bambu curva-se num vendaval, para não quebrar.
- O bambu ensina sobre o vazio interior, tão necessário para o aprendizado. Para aprender é preciso estar vazio de conceitos e preconceitos. O excesso de conceitos e preconceitos nos tornam rígidos. A maior qualidade do bambu é o fato de ser oco. O vazio significa um potencial. É a origem e o retorno de todas as coisas — o absoluto. A paz de espírito vem do vazio, do silencio e da meditação. O vazio une tudo. Somos 80% de vazio— cada célula nossa tem um núcleo rodeada de vazio e elétrons, que giram em torno do núcleo. Estamos todos ligados pelo vazio. O universo é um vazio, com energia, e alguns planetas.
Miguel Filliage
Naturista (CRT 32280), escritor, há quase 20 anos trabalha e é especialista em Medicina Clássica Taoísta e Tibetana e fitoessenciais vibracionais, com pós graduação em Psicologia Transpessoal. Emails: miguel@clisf.com.br , miguelfilliage@cciencia.com.br