quinta-feira, 24 de março de 2011

MESTRES TAOÍSTAS: A ÁGUA E O BAMBU.

MESTRES TAOÍSTAS: A ÁGUA E O BAMBU.
Miguel Filliage(*)
A base filosófica da Medicina Oriental, especialmente a Chinesa e a Tibetana, é taoísta, baseada na observação sistemática e profunda da natureza. Na natureza, com na vida de qualquer pessoa, nada é permanente — tudo está em contínua mutação. A impermanência é uma das grandes leis do Planeta. A natureza e o Homem evoluem em ciclos, num movimento espiralado—sempre acontece o verão, o outono, o inverno e a primavera, mas as flores nunca são as mesmas.
Alguns dos principais conceitos e ensinamentos taoístas saíram de dois grandes mestres da natureza, a água e o bambu.
LIÇÕES VINDAS DA ÁGUA
  • A água ensina a não resistir, a deixar fluir, a aceitar o que se apresenta. A vida surgiu da água, o maior solvente do planeta, o útero da vida. A água flui, avança pelo caminho mais fácil, contorna obstáculos, procura a menor resistência. A água não briga com os obstáculos, não resiste. Assim é.
  • A água ensina que só é grande aquele que serve. A água é grande mestre porque vem servindo ao planeta Terra há bilhões de anos. Existe uma única água no mundo. Há pelo menos quatro bilhões de anos a água da Terra é a mesma. Ela é um fluxo contínuo. A mesma água deu vida a todos os seres vivos do Planeta—através dela, é possível perceber a unicidade de tudo.
  • A água ensina que para avançar na vida é preciso, muitas vezes, recuar. Quando a água cai num fosso, acumula-se, até encontrar a borda mais baixa. Quando o Homem está numa situação difícil, no fundo do poço, precisa voltar-se para si, se reabastecer, interiorizar-se, recuar, fazer muita reflexão e meditação, para voltar a avançar, para encontrar novas saídas.
  • A água ensina que somos naturalmente um fluxo contínuo de energia, de fluídos e de água. O que mantém a vida da água é o seu fluxo. O que mantém nossa vida é o fluxo. O bater do coração é um fluxo; o sangue é um fluxo; um meridiano de energia estagnado interrompe o fluxo da vida, a vida pára—e as doenças acontecem. E o fluxo é interrompido, muitas vezes, pelas nossas emoções mal canalizadas, pelas nossas resistências. Precisamos aprender a fluir como a água, sem resistência, só aceitando. Somos compostos de 75% de água e toda ela se renova em dois dias no corpo; e a cada seis meses, nos renovamos integralmente, com novas células.
  • A água ensina que só é grande aquele que é humilde e receptivo, assim como o oceano, que acolhe e é receptivo a todos os rios. O oceano é grande porque ocupa a posição mais baixa.
LIÇÕES VINDAS DO BAMBU
  • O bambu ensina que é necessária a paciência e a determinação para os projetos florescerem e terem força. O bambu enraíza-se bem fundo e firme antes de crescer para fora da terra. Quando plantado, através de semente, o bambu fica cinco anos embaixo da terra, antes de brotar.
  • O bambu ensina que quem se contenta com o suficiente tem o suficiente; quem agradece aquilo que já tem, está pronto para prosperar. O bambu cresce reto, satisfeito e agradecido com seu espaço. Ele ocupa um espaço pequeno e suficiente. Uma lição de gratidão, retidão e suficiência aos homens.
  • O bambu ensina a simplicidade. O bambu é uma planta muito simples.
  • O bambu ensina sobre a necessidade dos limites para as coisas durarem. O bambu tem divisões que garantem sua resistência. Seus gomos são seus limites. Dia e noite são limites; estações do ano têm limites. Tudo precisa de limites. Até as limitações precisam de limites — para não virarem inflexibilidades.
  • O bambu ensina sobre a flexibilidade, o caminho do meio; para não sermos rígidos. A mente rígida quebra, tem doenças, especialmente de coluna. O bambu curva-se num vendaval, para não quebrar.
  • O bambu ensina sobre o vazio interior, tão necessário para o aprendizado. Para aprender é preciso estar vazio de conceitos e preconceitos. O excesso de conceitos e preconceitos nos tornam rígidos. A maior qualidade do bambu é o fato de ser oco. O vazio significa um potencial. É a origem e o retorno de todas as coisas — o absoluto. A paz de espírito vem do vazio, do silencio e da meditação. O vazio une tudo. Somos 80% de vazio— cada célula nossa tem um núcleo rodeada de vazio e elétrons, que giram em torno do núcleo. Estamos todos ligados pelo vazio. O universo é um vazio, com energia, e alguns planetas.
Miguel Filliage
Naturista (CRT 32280), escritor, há quase 20 anos trabalha e é especialista em Medicina Clássica Taoísta e Tibetana e fitoessenciais vibracionais, com pós graduação em Psicologia Transpessoal. Emails: miguel@clisf.com.br , miguelfilliage@cciencia.com.br   

sexta-feira, 11 de março de 2011

O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA - ECKHART TOLLE


Quero compartilhar aqui um trecho do livro "O Despertar de Uma Nova Consciência", de Eckhart Tolle, autor que admiro muito, verdadeiro mestre. Vale a pena conhecê-lo em  livros e em palestras, disponíveis nas livrarias. Leia este trecho abaixo com calma e tempo. É um texto curto, mas certeiro-- e vem de encontro ao meu artigo anterior, aprofundando. 

“Queixar-se é uma das estratégias prediletas do ego para se fortalecer.
Cada reclamação é uma pequena história que a mente cria e na qual acreditamos inteiramente.
Não importa se ela é feita em voz alta ou apenas em pensamento.
Alguns egos que talvez não tenham muito mais com o que se identificar sobrevivem apenas com queixas.
 
Quando estamos presos a um ego assim, reclamar, sobretudo de alguém, é algo habitual e, é claro, inconsciente, o que mostra que não sabemos o que estamos fazendo.
 
Uma atitude típica desse padrão é aplicar rótulos mentais negativos às pessoas, seja na frente delas ou, como é mais comum, falando sobre elas com alguém, ou até mesmo apenas pensando nelas. Xingar é o modo mais rude de atribuir esses rótulos e de mostrar a necessidade que o ego tem de estar certo e triunfar sobre os outros: "idiota", "desgraçado", "prostituta", “etc..”, todas essas afirmações definitivas contra as quais não se pode argumentar.
No nível seguinte, descendo pela escala da inconsciência, estão os gritos. Não muito abaixo disso se encontra a violência física. O ressentimento é a emoção que acompanha a queixa e a rotulagem mental dos outros. Ele acrescenta ainda mais energia ao ego.
 
Ressentir-se significa ficar magoado, melindrado ou ofendido. Costumamos nos sentir assim em relação à cobiça das pessoas, à sua desonestidade, à sua falta de integridade, ao que estão fazendo no presente, ao que fizeram no passado, ao que disseram, ao que deixaram de dizer, à atitude que deviam, ou não, ter tomado. O ego adora isso.
Em vez de detectarmos a inconsciência nos outros, nós a transformamos em sua identidade.
 
Quem é o responsável por isso? Nossa própria inconsciência, o ego em nós. Algumas vezes, a "falta" que apontamos em alguém, nem mesmo existe. Ela pode ser um erro total de interpretação, uma projeção feita por uma mente condicionada a ver inimigos, e a se considerar sempre certa, ou superior.
Em outras ocasiões, a falta pode ter ocorrido; contudo, se nos concentrarmos nela, às vezes excluindo todo o resto, nós a tornamos maior do que ela realmente é. E dessa maneira fortalecemos em nós mesmos aquilo a que reagimos no outro, o ego.
 
Não reagir ao ego das pessoas é uma das maneiras mais eficazes de não só superarmos nosso próprio ego como também de dissolver o ego humano coletivo.
 
No entanto, só conseguimos nos abster de reagir quando somos capazes de reconhecer o comportamento de alguém como originário do ego, como uma expressão do distúrbio coletivo da espécie humana insana. Quando compreendemos que não se trata de nada pessoal, a compulsão para reagir desaparece.
Não reagindo ao ego, muitas vezes podemos fazer aflorar a sanidade nos outros, que é a consciência não condicionada em oposição à consciência condicionada. Em determinadas ocasiões, talvez precisemos tomar providências práticas para nos proteger de pessoas profundamente inconscientes. Isso é algo que temos condições de fazer sem torná-las nossas inimigas.
 
Nossa maior defesa, contudo, é sermos conscientes aqui e agora. Alguém passa a ser um inimigo quando personalizamos a inconsciência dele, que é o ego.
A não-reação não é fraqueza, mas força.
Outra palavra para não-reação, é perdão.
Perdoar é ver além, ou melhor, é enxergar através de algo. E ver, através do ego, a sanidade que há em cada ser humano como sua essência.
O ego adora reclamar e se ressente não só de pessoas como de situações.
O que podemos fazer com alguém também conseguimos fazer com uma circunstância: transformá-la num inimigo. Os pontos implícitos são sempre os mesmos: “isso não deveria estar acontecendo”, “não quero estar aqui”, “estou agindo contra minha vontade”, “o tratamento que estou recebendo é injusto”, “etc..”.
E, é claro, o maior inimigo do ego, acima de tudo isso, é o momento presente, ou seja, a vida em si, o agora.
 
Não confunda a queixa com a atitude de informar alguém de uma falha ou de uma deficiência para que elas possam ser sanadas. Além disso, abster-se de reclamar não corresponde necessariamente a tolerar algo de má qualidade nem um mau comportamento.
 
Não há interferência do ego quando dizemos ao garçom que a comida está fria e precisa ser aquecida - desde que nos atenhamos aos fatos, que são sempre neutros. "Como você se atreve a me servir uma sopa fria?" Isso é se queixar, isso é ego.
Nessa situação, existe um "eu" que adora se sentir pessoalmente ofendido pela comida fria e ele aproveitará esse fato ao máximo, um "eu" que aprecia apontar o erro de alguém. A reclamação a que me refiro está a serviço do ego, e não da mudança. Algumas vezes fica óbvio que o ego não deseja que algo se modifique para que possa continuar se queixando e continuar existindo.
 
Veja se você consegue capturar, ou melhor, perceber, a voz na sua cabeça - talvez no exato instante em que ela esteja reclamando de algo, e reconhecê-la pelo que ela é: a voz do ego, não mais do que um padrão mental condicionado, um pensamento.
Sempre que a observar, compreenderá que você não é ela, e sim aquele que tem consciência dela.
 
Na verdade, você é a consciência que está consciente da voz. Atrás, em segundo plano, está a consciência. À frente, se situa a voz, aquele que pensa, o ego. Dessa maneira você estará se libertando do ego, livrando-se da mente não observada. No momento em que você se tornar consciente do ego, a rigor ele não será mais o ego, e sim um velho padrão mental condicionado.
O ego implica inconsciência. Ele e a consciência não conseguem coexistir. O velho padrão mental, ou hábito mental, pode sobreviver e se manifestar por mais um tempo porque tem o impulso de milhares de anos de inconsciência humana coletiva atrás de si. No entanto, toda vez que é reconhecido, ele se enfraquece.
 
Só a prática da auto-observação consciente leva ao despertar da consciência e consequentemente com a eliminação do ego”.
 
ECKHART TOLLE in “O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA”