quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

RECUAR E ACEITAR O QUE SE APRESENTA NÃO É PERDER. É CONQUISTAR SAÚDE FÍSICA E EMOCIONAL.

Miguel Filliage (*)
Tenho recebido muitas pessoas no consultório, com queixas e sintomas  físicos e emocionais, que teriam cura rápida se apenas aceitassem o que esta acontecendo em suas vidas. Em resumo, passam por mudanças, mudanças surpreendentes, fatos extraordinários, desafios complexos e novos, etc. Na verdade, nem teriam sintoma algum no corpo físico ou no emocional, se trabalhassem dentro de si a aceitação. Este é um tema bem vasto, que mestres espirituais ensinaram e ensinam continuamente, mas que, nós, pouco entendemos. “Dar o outro lado da face, como assim? Não revidar, não revoltar-se, não brigar, não se desesperar, não culpar, não se culpar? Como assim?”. Recentemente recebi um texto de autoria de Ana Cristina Pereira que veio a calhar. Vou reproduzir alguns trechos, comentar outros, dentro da visão da medicina oriental, especialmente a tibetana.

“A primeira impressão que temos quando ouvimos ou pensamos em aceitar, seja uma pessoa, um fato ou uma circunstância, é de que estaremos nos submetendo ou nos subjugando, desistindo de lutar, sendo fracos. De verdade, se quisermos modificar qualquer aspecto da nossa vida e de nós mesmos, devemos começar aceitando. A aceitação é detentora de um poder transformador que só quem já experimentou pode avaliar...”

Um grande mestre, do qual tenho o privilégio de ser seu amigo, está sempre lembrando-nos: “se você compreende (uma situação, uma pessoa, um fato, uma circunstância, etc), as coisas são exatamente como são. Se você não compreende, as coisas são exatamente como são”. Muito simples. No mundo de hoje, precisamos exercitar, mais do que em outras épocas, a neutralidade, o “seja feita a Vossa vontade”. E confiar.

Preferimos, na maioria das vezes, não aceitar — resistimos, não concordamos com o ocorrido, queremos ter razão, ficamos prisioneiros do próprio ego. “Ser resistente, brigar, revoltar-se, negar, deprimir, desesperar-se, indignar-se, culpar, culpar-se, são reações emocionais carregadas de raivas. Raiva do outro, raiva de si mesmo, da vida. E raiva destrói, desagrega”.

A raiva é fonte de muitas doenças crônicas, de muitos sintomas físicos e emocionais. Se aceitássemos mais a vida com ela é e não como achamos que deveria ser, os consultórios e os hospitais teriam bem menos pacientes, e as farmácias bem menos clientes. O texto continua: “A aceitação é uma força que desconhecemos porque somos condicionados a lutar, a esbravejar, a brigar”.

Estamos muito identificados com o ego sem perceber que a vida é mais complexa do que meus quereres. Não temos tanto controle sobre ela como achamos que temos. Se estivermos plantando cebolas com nossos pensamentos e ações, não vamos colher orquídeas reluzentes. Vamos colher cebolas, e não adianta chorar. Aceite, aja e transforme. Tenha mais consciência do caminho, das decisões, das ações e dos pensamentos – e acolha tudo que se manifesta em sua vida. De alguma forma, nossa alma atraiu aquela experiência como oportunidade de crescimento, de evolução.

“No instante em que aceitamos, desmaterializamos situações que foram criadas por nós, solução surge naturalmente através de intuição ou fatos trazem as respostas e as saídas para o problema. Tudo é movimento. Nada é permanente.
“A nossa tendência “natural” é resistir, não aceitar, combater tudo o que nos contraria e o que nos gera sofrimento. Dessa forma prolongamos a situação. Resistir só nos mantém preso dentro da situação desconfortável, muitas vezes perpetuando e tornando tudo mais complicado e pesado.

Quando não aceitamos nos tornamos amargos, revoltados, frustrados, insatisfeitos, cheios de rancor e tristezas—e esses padrões mentais e emocionais criam mais dificuldades, vibramos e nos identificamos com o pior em nós, nossas sombras. Por fim, como última alternativa, o corpo manifesta algum sintoma físico, para alertar que algo dentro não está fluindo como deveria.

“Aceitar é expandir a consciência e encontrar respostas, soluções, alívio. Aceitar é o que nos leva à fé... Aceitar se refere ao momento presente, ao agora. No instante que você aceita, você entrega ao que a vida quer-lhe oferecer. Novas idéias surgem para prosseguir na direção desejada, saindo do sofrimento”.

Como dizem os mestres taoístas, “recuar não é perder. É conquistar nova força para continuar”— às vezes ajustando rotas, refinando ações, harmonizando emoções. Precisamos sair da noção do controle. Quem quer controlar tudo sofre mais e está emitindo vibração de falta total de confiança na vida. De que algo ruim irá acontecer logo ali. Está plantando cebolas. E irá colher cebolas.

Se você compreende, as coisas são exatamente como são. Se você não compreende, as coisas são exatamente como são. 

Miguel Filliage
Naturista (CRT 32280), escritor, há quase 20 anos trabalha e é especialista em Medicina Clássica Taoísta e Tibetana e fitoessenciais vibracionais, com pós graduação em Psicologia Transpessoal. Emails: miguel@clisf.com.br , miguelfilliage@cciencia.com.br